Pages

Alucinação

Alucinação. Sabia que era alucinação. O tempo todo, o tempo todo. Mas, deixava-se levar. Afinal, que fuga teria? Qual porta abrir? Qual seria o refúgio? Encruzilhadas dentro de encruzilhadas? E tantas cores. Dois caleidoscópios havia, isto sim, no lugar de globos oculares, que saltavam para fora da órbita, com os músculos da face rasgados, com a pele mole da pálpebra pendurada em parte sobre a cor azul, ou melhor, verde, quer dizer, vermelha. Suas mãos eram duas coves enormes, que se desmanchavam ao encostar em qualquer coisa que fosse. Cenários que se moldavam ao ponto que os pés passavam um pelo outro. Aquilo era bacana. E a porta? Ah!, a porta! A que ele – ou seria eu mesmo, ou talvez fosse um terceiro; ninguém? – atravessou fora encontrada depois de um muro enorme, que ia sendo construído numa velocidade incrível no mesmo instante em que ele andava, mas, enfim, tudo tem fim, tem fim? Alucinação. O tempo todo, o tempo todo. E da porta saiu num filete de areia com mar para os dois lados. Era um bizarro caminho, porém era dele e de mais ninguém. As ondas eram medianas e as águas comportadas. E ele caminhava. Nada lhe importunava, até que veio comendo de frente para ele um peixe toda areia que ali formava o estreito caminho, e as águas dos dois mares se encontravam por trás do peixe como duas mãos que se entrelaçavam. Ao se jogar no mar, caiu num monte de cal e teve de cuidar com os tratores que ali trabalhavam. Um fantasma. Era um correndo de lá para cá, e os tratores se multiplicavam como um bolor num pão velho. Mas, o bolor foi recuando, recuando, recuando, recuando,
r e c u a n do, r e c u a n nd, o er uc n d oa , . ? l os cuando, udo ec ec na ,,,, ... u a n oa , ????##. c u os cua ndo er a , .
? l c uando osan c uando uc n d o
a uc n d oa uc n d oa recu
ando, odnaucer, rec uadarrr ando, r e c ndnnnnii u a n do, r

e c u a n nd, oer uc n d oa , . ? l os cuando, udo ec ec na ,,,, ... u
a n oa ,????##. c u os cuando er a , . ? l c uando osan c uando uc n d oa uc n d oa uc n d oa


"Descerrar" não seria o melhor termo. "Descolar" talvez fosse o ideal. Ele era – sim, era ele, e não eu, nem terceiro, nem ninguém – quem descolava os olhos como se os músculos que o acoplavam fossem de uma só vez explodir, ou os cílios grudar de um lado só. Depois de vários segundos, o que ele conseguia notar eram dois vultos, que devagar iam ganhando silhueta, e que devagar iam ganhando forma, e que devagar revelavam-se dois médicos com jalecos brancos e fichas nas mãos. O mais velho olhou para o outro e disse:

– Avise a família. Ele voltou!

Alucinação. O tempo todo, o tempo todo.